domingo, 16 de setembro de 2007

Despedida de Fimdhorn

Cheguei anteontem em Findhorn depois de 3 semanas. Anna foi para o hospital devido ao problema da perna, logo depois que parti. Apesar de ter a casa só para mim , sinto falta dela. Ontem fui visitá-la no hospital. Cada vez me surpreendo mais com o respeito que o governo tem pela populacão. Hospital público lindo, enfermaria para quatro pessoas enorme e tudo limpo e organizado. Quando estive lá, médica, enfermeira e refeitório passaram para saber se Anna precisava de alguma coisa. E ela tem somente uma úlcera na perna que esta demorando para cicatrizar. No Brasil depois de enfrentar fila, atendem em 5 min e dão uma pomada para passar. Foi o que fizeram com uma empregada minha. O frio continua. Cheguei aqui com 10 graus e o sol apareceu um pouco hoje. E ainda estamos no verão. Em compensação a França e a Espanha estavam com um tempo maravilhso. Dias de um céu azul profundo e uma temperatura agradabilíssima.
Fiz escala no Charles De Gaulle onde encontrei Maria Cristina e uma amiga dela e seguimos para Marseille onde pegamos o carro. Nos deram um Fiat Doblo zerinho. Elas acharam muito grande para dirigir e eu aceitei dirigir sozinha. Demos um fora na escolha do local de dormir a primeira noite. O aeroporto de Marseille é mais perto do lugar que íamos do que Marseille mesmo. Mas demos outro fora na escolha do hotel. Como elas haviam dormido no avião queriamos ter um quarto single para cada uma de nós. Escolhemos o Formule 1 que pensavamos ser igual ao de SP. Simples, mas confortavel e acessível para termos 3 quartos. Nunca fiquem em Formule 1 na Europa. É um muquifo. Saimos de Marseille o dia seguinte para a Provence em direção a Bras d’Asse no caminho de Digne visitar uma amiga que conheci aqui em Findhorn que está fazendo uma comunidade recuperando um castelo medieval no alto de um morro com uma vista maravilhosa para o Mont Ventoux e os campos de lavanda. No caminho almoçamos, pela primeira vez depois de quase 3 meses viajando, minha primeira comida realmente saborosa ( Vive la France!!!), em Les Mees. Vila pequena mas com uma formação calcária no morro da cidade muito interessante. Zus, uma belga de Antuérpia e mais uma casal de amigos, recebia um grupo de deficientes mental adulto que fazia trabalho de arte dentro da igreja antiga transformada em atelier. Ela e uma amiga cozinham para todos e nós tambem jantamos e dormimos lá. Inesquecíivel a paisagem ao entardecer com a lua surgindo naquela paisagem linda. É maravilhoso existir pessoas com essa capacidade de doação. Ano que vêm, ela e o marido que vai se aposentar pretendem morar lá tempo integral. Estão reconstruindo e fazendo studios para acomadar as pessoas há 17 anos Me sinto tão egoísta quando vejo isso!!!
Depois do almoço, seguimos para Roussillon ainda com alguma esperança de ver algum campo florido, mas não havia nada. Segunda vez que vou a Provence e não vejo a lavanda. Bom. Terei que ir a terceira. Roussillon, não a região do Languedoc, é uma vila linda toda em vários tons de ocre. Lojinhas, comida gostosa. Passamos duas noites em um hotelzinho ótimo, bem provençal. Fomos depois a Avignon onde só passeamos em volta do Palácio dos Papas (já conhecia e elas não quiseram ir), Nimes, Montpellier, onde almoçamos, Narbonne, Carcassone, Toulouse em direção a casa do André em Roquecor, que fica entre Agen e Cahorsna região chamada Aquitaine. Chegamos a noite com muita chuva. O dia seguinte amanheceu com o sol brilhando. A França é toda muito linda, mas fiquei impressionada com a beleza dessa região. Toda ela plantada com videiras e ameixeiras. Campos lindos de girassóis um atrás do outro. Igrejas antigas. Vilas medievais no alto dos morros. Parecia que estava num quadro de Van Gogh. Luz dourada. Entendi a razão de pintar paisagem. Comunhão perfeita. Fusão. Com a natureza. Com o universo . O artista é a paisagem. Um igual ao todo. E cada artista se expressa ao seu modo. Van Gogh, Monet, Turner, Cezanne, Matisse e muitos outros inclusive os abstratos cada um a seu modo se expressara sendo um com a paisagem Maravilha. Roquecor é um pequeno vilarejo medieval no alto da montanha com uma igreja, uma epicerie, um correio que só abre duas vezes por semana , uma prefeitura e um café que na realidade é um restaurante muito bom cujo dono é um australiano que faz autêntica comida francesa e é frequentado por ingleses e franceses. Bem movimentado. A vila é um charme. Casas de pedras branquinhas, janelas azuis, flores pela rua. A casa do André é bem grande e muito confortável. Como a mãe dele morava lá a casa é bem mobiliada e equipada. E tem uma vista deslumbrante para os campos ao redor. Foi reformada, mas é uma casa medieval construída no muro da citadela. A vizinhanca éh super simpática e muitos ingleses tem casa de veraneio por lá. Compravamos baguette todas as manhãs e cozinhamos muitas vezes. Passeamos muito pelas cidadezinhas vizinhas , Montagui, Tourneau d’Agenais, Lauzerte, Penne d’Agenais e o Pays de Serre, onde cruzavamos os campos e as vilas, chamadas pela Maria Cristina, de vilas Bienvenue- A Bientot. Adivinhem porque. As vezes almocávamos por lá. Andavamos a pé pelos campos fazendo nosso cooper. Íamos ate o moinho de vento o que me fazia me lembrar novamente do Van Gogh. Igreja, campo, moinho e girassóis. Vida deliciosa. Agradeço muito aos meus amigos Claudia e Andre por terem me proporcionado férias tão agradáveis. Fomos ao Musee do Foie Gras, onde nos explicaram como é feita a “gavage”. A superalimentação do pato ou do ganso para o figado ficar bem gordo. Uma maldade, mas é uma delicia. Comi sem pensar. Como tambem não penso quando como frango, bife, porco etc. Somos ainda bárbaros. Gostaria de me tornar vegetariana, mas não tenho nenhuma vontade. Como isso tem de vir de dentro e ainda não veio, não quero ficar reprimida. Ainda aproveito os prazeres da mesa. No sábado havia um picnic no pomar do Musée, com mesas embaixo de ameixeiras. Pagamos 3 euros e podiamos colher e comer quanto quiséssemos. Quase tive indigestão de tanta ameixa gostosa. E barracas vendendo comida. Só que especialidade francesa. Escargot com cogumelos, o foie de todas as maneiras, frango na brasa, armagnac, vinho , pão de campagne. Pegamos uma mesa e almoçamos maravilhosamente bem. Fiz bem , porque aqui na Escócia a comida é horrivel. Em Londres, pagando caro ha opções de bons restaurantes, mas aqui, nem isso. Em Findhorn só há 2 restaurantes. E só da para comer 4 pratos: moules a mariniere,clam chowder, salmon grelhado com salada e bife com fritas. Aprendi que a Aquitaine e o Languedoc é o Pays des Cathares. Para quem não sabe, e eu não sabia, os Cataros foram cristãos que se opuseram a Roma por volta do sec XII. Eles queriam voltar a essencia do Evangelho. Essa região era muito refinada naquela época, com os trovadores, poetas, o amor cortês, sendo muito valorizada a independência de pensamento. Criaram as Bastides, citadelas, não mais burgos feudais. Isso foi o que entendi da explicação no museu com meu fraco francês. Mas comprei um livro para ler a história dos Cátaros. Deve ser muito interessante. Todos os cátaros foram reprimidos pela Igreja e o rei e muitos foram queimados na fogueira.
Fomos tambem a Sarlat, a cidade do foie gras. Cidadezinha dourada, prédios renascentistas, muitos restaurantes e lojinhas. Adorei. E comemos foie gras. No final não aguentavamos nem ver mais magret, confit, bloc de foie , gordura de foie. Chega de foie!!! Dormimos lá. No dia seguinte, seguimos para Rocamadour, centro de perigranação da Idade Média. São Luis fez a peregrinação, assim como vários outros reis. Lindo “gorge” com um castelo em cima de um rochedo e a igreja mediavel incrustada na pedra. O vilarejo medieval fica em baixo. Usamos elevadores para descer do castelo a igreja e depois a vila. Muito bonito. Vimos tambem uma gruta com estalagmites e estactites e pinturas rupestres. Meio fraca. A proxima vez irei a Pech Merle, que fica proximo de lá. No finalzinho resolvemo s ir a St Cirq-Lapopie. Foi um erro, pois ja estava ficando tarde e olhando no mapa não parecia tão longe, mas a estrada pequena e sinuosa me deixou muito cansada. O lugar é maravilhoso com uma vista maravilhosa para o rio Lot serpenteando 200m abaixo. Vila medieval de artesãos que trabalhavam torneando madeira. Mas não deu para curtir, pois não queria dirigir a noite por aquelas estradas sinuosas e desconhecidas. Domingo saimos cedo para Barcelona e Sietges. Passamos por Moissac, onde visitamos a Abadia de St Pierre, almoçamos em Carcassone, atravessamos os Pireneus pela auto-estrada e chegamos em Sietges a noitinha. Sietges fica depois de Barcelona, a 40 min de trem. Estacionei o carro e não o dirigi mais por 6 dias. Sietges é uma cidade praiana, deliciosa com calçadão a beira-mar, muitos restaurantes e bares abertos a noite toda, ótimas lojas, um turismo gay friendly, animada, descontraída, ótima comida de frutos de mar, muita paella e mais barata que a França . Fui a praia, aluguei uma espreguiçadeira e tomei sol. A areia é fina, apesar de amarelada. As mulheres fazem topless. Os gays andam de maos dadas durante o dia pelas ruas. Tudo aberto sem preconceito. Uma outra amiga holandesa, Vivina, casada com um espanhol mora lá há alguns anos. Nos convidou para jantar na casa dela, no alto do morro, não no pueblo. Uma casa ótima com uma vista linda a 10 min do centro. Fui 2 vezes de trem sozinha a Barcelona enquanto Maria Cristina e amiga faziam outro programa de sightseeing e Mont Serrat. Queria visitar os museus. Fundação Antoni Tapies que adoro, ao Museu Picasso, que apesar de mostrar como o Picasso já era um gênio aos 15 anos, é mais fraco que o de Paris, uma exposição do Dali e outra maravilhosa do Nicolas Stael. Andei pelo Passeig de Gracie onde vi belas lojas, a casa Batlo, a casa Pedreira, e fui ver tambem a Sagrada Família do Gaudi. Andei pelo bairro gótico e passeei pelo Parc Guel. Realmente o Gaudi foi um gênio. Delirante. Pena que estão terminando a Sagrada Familia num estilo modernoso. Era melhor tê-la deixada inacabada. O catalão é a lingua oficial falada. Na escola as aulas são dadas em catalão e os alunos só tem 3 horas por semana de espanhol. Barcelona merece ser visitada. Acho que tem mais de 20 anos a última vez que estive lá. Está bem modificada. Fizeram uma remodelação para os Jogos Olímpicos e a cidade ficou mais linda ainda. Sietges e Barcelona – cidades retornáveis
Sábado pela manhã fizemos nosso caminho de volta. Passamos por Narbonne e tinhamos intenção de dormir em Arles, mas devido ao Campeonato Mundial de Rugby os hotéis estavam lotados lá e em Salon de Provence. Dormimos 2 noites num Mercure da estrada em Lancon de Provence. Confortável. Perto do aeroporto de Marseille onde entregamos o carro sem nenhum arranhão. Dirigi sozinha 3177km. E fiquei muito feliz por isso. Me deu muita confiança. E me senti independente. Maria Cristina é ótima companheira de viagem. Alegre e amiga. Me levou para o Brasil uma mala com 25kg. Fizemos uma viagem maravilhosa. Elas foram para o Brasil e eu vim por Aberdeen para Findhorn. Dormi no hotel, pois o vôo chegou quase a meia noite. No dia seguinte vim para Findhorn. Amanhã faço a mala e despacho pelo correio mais uma caixa. Quero viajar leve para o Nepal. Domingo vou para Londres pelo trem Caledonian Sleeper. Vou nanando como no tempo do Santa Cruz. Para Katmandu viajo quinta pela a Qatar Airlines. Me aclimato por 2 dias numa altitude de 3000m, me preparando para os 5400m do Tibet. Passo 2 semanas lá na volta mais 2 dias em Katmandu. Depois espero ir logo para a India. Vou tentar tirar o visto em Londres. Se não der, terei que tirar no Nepal e pode ser que demore um pouco. Mas vou conseguir tirar em Londres. Tenho que pensar positivo. Levarei o laptop e quando encontrar uma internet mando os diários.
Beijos
Leila

Errata: Escrevi “couro” em vez de “coro” no ultimo diário. Me perdoem