terça-feira, 23 de outubro de 2007

India, Nepal e Tibet

Fotos: Leylah Navarro Lins










12/10/07
Depois de tres semanas intensas, so agora tive tempo de escrever. Estou em Kathmandu ha uma semana e o grupo terminou de ir embora ontem. Tive de ficar um pouco mais aqui para tirar meu visto para a India. Depois de muita burocracia na embaixada, com ida as 4h da manha para pegar um numero baixo e retornar mais 2 vezes enfim consegui o visto. Mas agora estou na lista de espera para o voo sabado para Chennai, antiga Madras. Kathmandu eh um caos. Pensem numa periferia de SP bem feia, com ruas esburacadas, transito louco, buzina e poluicao. Fica a 1300m de altitude num vale cercada de montanhas verdes. E faz calor essa epoca do ano.Estou com ar condicionado ligado. Como sempre erro nas roupas. Trouxe mais roupa de inverno que de verao. Mas aqui tudo eh muito barato, e comprei umas roupinhas leves . Pago apenas Us$18 por um apto single com cafe da manha ingles num bom hotel aqui na unica parte da cidade que da para ficar. Thamel eh o bairro dos turistas. Cheia de lojinhas com um artesanato maravilhoso e otimos restaurantes. A refeicao sai no maximo, com cerveja ou um copo de vinho e sobremesa por US$10. Kathmandu é o ponto de partida para os trekkers. Lojas de artigos para montanhismo com todo o equipamento, muitas lojas de massagens maravilhosas no ar condicionado. Ontem fiz 1h de shiatsu, 1h de reflexologia nos pes e meia hora so para a lombar. Excelente profissional e baratissimo. O povo muito gentil eh muito pobre com salario medio de US$70. Tentam ganhar com turismo. Mas temos que barganhar, pois o que pedem inicialmente eh para os americanos que pagam qualquer valor pelas mercadorias. As mulheres mesmo sendo pobres se vestem de sari ou korta, uma roupa de calca, tunica e echarpe larga. Tudo muito colorido. Elas sao vaidosas e femininas. Chegamos dia 21/09 e passamos dois dias para aclimatar com a altitude num outro hotel em Boudha para ver a linda “stupa” , o Pashupatinath Temple e visitar o Kopan Monastery que ficam naquela regiao. Sair de Londres direto para o caos eh um choque cultural. Mas gostei muito. A “stupa” eh uma construcao enorme sagrada budista que simboliza as unicas posses de Buda. Na parte de baixo a corda, no meio a caneca de esmolar e na parte de cima a caneca de beber agua. Em geral sao guardadas reliquias dentro dela e as pessoas fazem peregrinacao para visita-la. Existem muitas “stupas” na India, Tibet e Nepal. Mas essa é a maior do Nepal. Quando chegamos, fomos jantar no terraco de um restaurante que dava para a “stupa” toda iluminada com milhares de velas ao redor nos andares e prayer flags enfeitando . Foi mágico.





Pashupatinath é um templo hinduista na beira de um rio, onde sao cremados os mortos. Lindo, com macacos soltos passeando pelos jardins. Adorei o conjunto de 11 pequenos templos , tirei muitas fotos e so depois vim a saber que sao os tumulos das 11 viuvas de um rei, no sec XVIII ,que tiveram que morrer na fogueira quando ele foi cremado. Vida triste de rainha!!!! Vimos as cremacoes a beira do rio. Colocam o cadaver embrulhado numa mortalha amarela em cima da fogueira. Quando vira cinza jogam no rio . Nao entramos no templo, pois nao eh permitido para nao hinduistas.
O Kopan Monastery fica no alto de um morro e pertence a ordem budista do Dalai Lama.A Gelupka. Monges e nuns com suas roupas vermelhas trabalhando ou estudando.Templo grande e bonito. Os ocidentais podem se hospedar la para cursos de 10 ou 30 dias sobre budismo. Sao dados por lamas e dizem ser muito bons, mas nao podem sair durante o periodo. Havia muitos ocidentais fazendo um curso quando fui la.
Fomos para o Tibet, pela China Airlines. Chegamos em Lhasa com diferenca de fuso de 2:15h. Nunca imaginei que houvesse 15min no fuso! Mas os chineses fazem o que querem. Aeroporto moderno, ar rarefeito. 3400m de altitude. Tomei minhas bolinhas de homeopatia para altitude. Senti um pouco de tonteira e pressao na cabeca, mas fiquei bem. Thomas, o organizador do grupo, e mais 2 pessoas passaram mal tendo que tomar oxigenio e ficar de molho no hotel. Cilindros deoxigenio sao vendidos em lojas na rua. Um onibus moderno com ar condicionado e guia local nos esperava. Esperava encontrar frio no Himalaia. Viajamos 2h e fomos para Tsedang. Otimas estradas e o mais engracado eh o controle de velocidade. O onibus passa por um posto, marca a hora. No proximo posto eh verificado o tempo. Sem radar. Na estrada varios carros e onibus ficam parados esperando dar o tempo. Paisagem arida, montanhas altas rochosas e com imensas dunas de areia. Pouca vegetacao apenas a beira da estrada. Ceu azul e muito ao longe alguns picos nevados. Neva pouco nessa regiao e fazia calor durante o dia. Dormimos em Tsedang e no dia seguinte pegamos um barco a motor e atravessamos um largo rio par visitar o Monasterio de Samye, o primeiro monasterio do Tibet fundado no sec.IV. Lindo monasterio, mas o que mais gostei foi ter visto o povo com seus trajes tipicos lindos, muito enfeitados com joias de prata turqueza, coral, lapis lazuli no pescoco, orelhas, cabelo fazendo sua peregrinacao. Tirei muitas fotas. A religiosidade do povo tibetano eh grande. Pelo menos uma vez na vida tem que fazer uma peregrinacao aos lugares sagrados.Sao todos budistas Eles nao se interessam pelo ocidente, portanto conservam as mesmas tradicoes ha seculos . Sao nomades ou “farmers”. Ou monges. Milhares de jovens vao para os monasterios. Os nomades sao os ricos. Mudam suas tendas cobertas com algodao no verao e pele de yak no inverno ate 10 vezes por ano buscando pastagem para seus animais. Vivem isolados com sua familia nuclear. As vezes nos festivais se reunem e dancam ec antam. Ajudam bastante os monasterios com dinheiro e fornecendo manteiga de yak para comer e lamparinas. Os fazendeiros sao mais pobres com suas pequenas plantacoes de arroz e “barley” em terra rochosa e arenosa. Vida dura. Os chineses invadiram o Tibet em 1950 e o anexaram a China. Em 1958, com a Revolucao Cultural de Mao, a religiao foi proibida, monasterios destruidos e o Dalai Lama fugindo para Daramsala na India. Ele eh considerado persona non grata no Tibet e tive que deixar um livro que tinha com a foto dele aqui em Kathmandu, pois nao se pode entrar na China com nada que lembre ele. Infelizmente nao adianta mais o adesivo de Free Tibet nos carros. David contra Golias. O Tibet virou China.A China esta crescendo muito rapido e precisa de espaco. Cidades modernas, padronizadas, sem alma. Bons hoteis, boas estradas, multinacionais, progresso chegando, mas acabando com a cultura de um povo. A partir de 1985, os chineses liberaram a religiao, depois de matarem milhares de tibetanos com armas, obrigaram a plantar trigo numa regiao nao apropriada para esse cultivo, mataram milhares de fome. Liberaram a religiao e reconstruiram alguns monasterios de olho no turismo. O Potala Palace virou um museu, com guardas chineses controlando e cobrando caro pela visita. Hoje a populacao de Lhasa eh de 90% de chineses e 10% de tibetanos ao redor do Jokhan, na parte antiga da cidade. Jokhan, antigo palacio e monasterio fica na principal praca da cidade antiga de Lhasa. Peregrinos se jogam na frente dele fazendo prostracoes. Apos a travessia do rrio, pegamos um onibus local. So rindo para nao chorar. Enquanto cabe alguem eles deixam entrar. Dormimos em Samye, numa Guest House do proprio monasterio. Nao havia outro lugar para dormir. Quarto confortavel mas sem banheiro. Tinhamos que atravessar o terraco para irmos a um. Luar e vista para o monasterio e “stupa”.Ar limpido. Frescor.Magic. Mas o banheiro.... Porta aberta, buraco no cimento dando direto para um rio. Tinhamos que jogar uma bacia de agua depois. E o cheiro!!!! Ai, vida de viajante as vezes eh dura. Alias os banheiros durante a viagem de onibus eram problematicos. Instituimos o Pee Stop atras das moitas ao inves de pararmos em banheiros publicos. Muito engracado. Cada um procurava seu lugarzinho. Homens de um lado e mulheres do outro. Pelo menos era mais cheiroso. No dia seguinte, barco de volta e nosso onibus para Lhasa. Chegando la, o hotel marcado falhou e tivemos que ficar num hotel chines. Modernissimo, confortabilissimo. Quarto grande com sofa e banheiro com ducha de massagem. Adorei! Mas Thomas, que odeia os chineses, nao gostou. E tratou de nos mudar na noite seguinte para um tipico hotel tibetano na parte velha da cidade. Nao quer dar dinheiro para os chineses. Pediu para comprarmos apenas de tibetanos. Hotel bom, mas antigo. O pior eh que viajamos no outro dia e ficamos em 5 hoteis diferentes. Visitamos onze monasterios.Lindos. Com seus panos nas fachadas. Bandeiras. Mas todos semelhantes, escuros, com cheiro enjoativo de lamparinas de yak misturado ao incenso. Inumeras escadas para subir. Quinhentas mil estatuas de buda overcrowding os espacos. Douradas e coloridas. Cada buda representa uma caracteristica humana. Barroco tibetano. Tumulos de ouro. Decoracao super rebuscada e colorida. Lindo um, dois, tres, mas no final nao aguentava mais. Enjoo como tive com o foie. O budismo que o Dalai Lama passa no ocidente eh light. Mais filosofico. Nao esperava encontrar tanto ritual e tanta supersticao. O budismo tibetano eh misturado com uma antiga religiao xamanica do Tibet. A Bon. Por isso eh tao diferente do zen budismo e de outros . Cada pais tem seu budismo. E mesmo no Tibet existem quatro correntes. Mas todas institucionalizadas. Eramos o Dharma Dozen, o grupo pequeno de 10 pessoas, mais Thomas e sua filha de 7 anos. Adoravel menininha, linda loura , inteligente, bem comportada e sabia(com acento) que acreditam ser reencarnacao de um lama tibetano. Quando um lama morre, ele diz onde vai reencarnar e deixa algumas pistas para a crianca ser encontrada. Se a crianca resolve alguns problemas que lhe sao dados, essa crianca eh aceita oficialmente como reencarnacao do lama. Tutchen Detchen, seu nome em budismo, ja esteve 8 vezes no Kopan e esta sendo preparada para ser um lama, e eh aceita nao oficialmente ainda como reencarnacao. Sera criada no ocidente para expansao do budismo. Realmente ela eh especial. O grupo de Findhorn eh politicamente correto, apesar de nao serem budistas como o Thomas. Acho mto engracado o politicamente correto. Todos com cara de perfeicao e bondade. Nao podem comparar, pois estariam julgando, como por exemplo achar muito feia Kathmandu em relacao a Lhasa. Ai, quero ser politicamente incorreta!!!! Thomas quer ser budista, mas tem que lutar muito com seu temperamento e volta e meia escorrega. Gosto da essencia do budismo,da sua filosofia, do Dalai Lama. Mas nao consigo gostar como religiao. Foi otimo vir aqui para ter certeza disso ..Quando li a historia,onde os reis e santos sao os mesmos, assasinatos , igualzinho a igreja de Pedro. Vi os tumulos de ouro enquanto o povo nao tinha o que comer, compreendi que a historia de todas as religioes eh a mesma . A busca do poder e da fortuna. Politica. Esquecem da essencia e ficam no ritual. Acham que se fizerem nao sei quantas prostracoes e rodarem a” wheel prayer” o tempo todo alcancam o enlightement. Continuo nao tendo nenhuma religiao apesar de ser profundamente religiosa, no sentido de “religare” . Sou livre. Gosto de meditacao. Eu e o cosmo.
Mas adorei ter visitado o Potala Palace. Como disse, virou um museu, mas eh grandioso incrustado no penhasco. Lembrei-me dos livros do Lombsang Rampa , “A Terceira visao” e “Os Monges do Tibet” que me fascinaram na decada de 70. 375 degraus. Acho que brevemente os chineses vao colocar elevador. Gostei tambem do antigo monasterio Jokhan e sua praca em frente, com muitas barracas vendendo colares, budas, antiguidades. Animada. Mas o que mais gostei, foi ter visitado as “caves” onde os homens santos meditavam por anos. 3 anos, 3 meses, 3 dias e 3 horas era o minimo. Ficavam isolados nessas cavernas no alto da montanha . Pudera. Imagino que fugiam da intriga da corte e buscavam a verdade. Subimos imensa escadarias para visitar as grutas . Depois fizemos picnic a beira de um rio. Foi otimo tirar o cheiro das lamparinas do meu nariz .Interessante o monasterio Sera em Lhasa, onde num patio, a tarde, os monges debatem assuntos relacionados ao budismo batendo com as maos como palmas. O barulho de tantos monges, o colorido das vestes no patio vale a pena ver.O “sky buriel” eh o funeral para o povo, mas nao eh permitido os turistas assistirem. Cortam o corpo do morto em pedacos e colocam-no sobre uma pedra para os abutres comerem. Os lamas sao cremados.





Subimos uma montanha numa estrada sinuosa e fomos ver um lago de agua turqueza a 5400m de altitude. Ja estava aclimatada, mas mesmo assim senti pressao na cabeca. Um grupo de ciclistas ocidentais subia a montanha pedalando. Havia 2 caminhoes de apoio. Mas haja folego! Voltamos a Kathmandu apos 2 semanas intensas. Nao tivemos um dia livre. Thomas, como alemao que eh, gosta de ser ditador e acha que somos peregrinos budistas sem sight seeing. Logico que me rebelei e tirei uma tarde para mim em Lhasa. Perdi um monasterio, mas preferi olhar a cidade sozinha.





Vir ao Tibet by yourself eh dificil. Nao ha onibus regulares e as pessoas nao falam ingles. Acho que as autoridades chinesas nao permitem. Ou se vem num tour de 4 dias com alguma operadora tipo Queensberry , mas se ve muito pouco, ou se pode alugar uma Land Rover com motorista e um guia atraves de uma agencia local, o que sai mais caro, mas da mais liberdade. Foi bom ter vindo com o grupo apesar dos pesares.
A primeira coisa que fiz em Kathmandu foi tratar do visto que demorou 5 dias. Enquanto esperava, viajei com 3 amigas para fazer um safari de elefante na jungle. Fomos de carro com ar condicionado e motorista para um resort no Royal National Park Chitwan. Sem budismo.Sao apenas 160km daqui de Kathmandu, mas como a estrada eh muito esburacada levamos 5:30h. Foi bom para conhecer um pouco o interior do Nepal. Lindas montanhas verdejantes e rios com corredeiras. Tivemos que usar o Pee Stop.Mas, tudo muito pobre! Quando falam que pior nao pode ficar, pode sim . Eh so ter governo ruim. Pode-se piorar sempre Andamos de elefante dentro da floresta para ver os animais.So que como eh dificil aparecer animais selvagens com tantos turistas nos elefantes, puseram dois rinocerontes esperando por nos. So que estavam nitidamente dopados. Apertei o guia e ele confirmou. Absurdo!!! Vimos os elefantes tomando banho e o por do sol a beira do rio.Adorei o passeio. Hotel excelente com piscina e grande jardim. So que nao podiamos sair apos escurecer, pois como estavamos no meio do parque, o guia disse ser perigoso devido aos elefantes selvagens que sempre matam gente na aldeia. Passamos 2 noites. Adorei.
Ontem visitei uma cidade linda, perto de Kathmandu, chamada Bakthapur. Cidade historica, patrimonio da Unesco. Templos hinduistas, pracas grandes, palacio e trabalhos maravilhosos de entalhe na madeira. Nenhum monasterio budista. O guia me explicou que nos templos hinduistas ainda fazem oferendas matando animais. Alias, li na internet que antes de chegarmos aqui , a Nepal Airlines, que so tem 2 avioes e estavam quebrados matou dois bodes para fazer os avioes funcionarem. Estou esperando lugar no voo para a India, mas com certeza, nem de graca voo pela Nepal Airlines!!!!
Resolvi ir para o ashram do Sri Vast primeiro, pois estou com muito peso na bagagem. Depois resolvo ir a Poona leve.
Mando noticias de lá, beijos e muitas saudades.








Vídeo do Tibet

Vídeo do Nepal