terça-feira, 23 de outubro de 2007

India, Nepal e Tibet

Fotos: Leylah Navarro Lins










12/10/07
Depois de tres semanas intensas, so agora tive tempo de escrever. Estou em Kathmandu ha uma semana e o grupo terminou de ir embora ontem. Tive de ficar um pouco mais aqui para tirar meu visto para a India. Depois de muita burocracia na embaixada, com ida as 4h da manha para pegar um numero baixo e retornar mais 2 vezes enfim consegui o visto. Mas agora estou na lista de espera para o voo sabado para Chennai, antiga Madras. Kathmandu eh um caos. Pensem numa periferia de SP bem feia, com ruas esburacadas, transito louco, buzina e poluicao. Fica a 1300m de altitude num vale cercada de montanhas verdes. E faz calor essa epoca do ano.Estou com ar condicionado ligado. Como sempre erro nas roupas. Trouxe mais roupa de inverno que de verao. Mas aqui tudo eh muito barato, e comprei umas roupinhas leves . Pago apenas Us$18 por um apto single com cafe da manha ingles num bom hotel aqui na unica parte da cidade que da para ficar. Thamel eh o bairro dos turistas. Cheia de lojinhas com um artesanato maravilhoso e otimos restaurantes. A refeicao sai no maximo, com cerveja ou um copo de vinho e sobremesa por US$10. Kathmandu é o ponto de partida para os trekkers. Lojas de artigos para montanhismo com todo o equipamento, muitas lojas de massagens maravilhosas no ar condicionado. Ontem fiz 1h de shiatsu, 1h de reflexologia nos pes e meia hora so para a lombar. Excelente profissional e baratissimo. O povo muito gentil eh muito pobre com salario medio de US$70. Tentam ganhar com turismo. Mas temos que barganhar, pois o que pedem inicialmente eh para os americanos que pagam qualquer valor pelas mercadorias. As mulheres mesmo sendo pobres se vestem de sari ou korta, uma roupa de calca, tunica e echarpe larga. Tudo muito colorido. Elas sao vaidosas e femininas. Chegamos dia 21/09 e passamos dois dias para aclimatar com a altitude num outro hotel em Boudha para ver a linda “stupa” , o Pashupatinath Temple e visitar o Kopan Monastery que ficam naquela regiao. Sair de Londres direto para o caos eh um choque cultural. Mas gostei muito. A “stupa” eh uma construcao enorme sagrada budista que simboliza as unicas posses de Buda. Na parte de baixo a corda, no meio a caneca de esmolar e na parte de cima a caneca de beber agua. Em geral sao guardadas reliquias dentro dela e as pessoas fazem peregrinacao para visita-la. Existem muitas “stupas” na India, Tibet e Nepal. Mas essa é a maior do Nepal. Quando chegamos, fomos jantar no terraco de um restaurante que dava para a “stupa” toda iluminada com milhares de velas ao redor nos andares e prayer flags enfeitando . Foi mágico.





Pashupatinath é um templo hinduista na beira de um rio, onde sao cremados os mortos. Lindo, com macacos soltos passeando pelos jardins. Adorei o conjunto de 11 pequenos templos , tirei muitas fotos e so depois vim a saber que sao os tumulos das 11 viuvas de um rei, no sec XVIII ,que tiveram que morrer na fogueira quando ele foi cremado. Vida triste de rainha!!!! Vimos as cremacoes a beira do rio. Colocam o cadaver embrulhado numa mortalha amarela em cima da fogueira. Quando vira cinza jogam no rio . Nao entramos no templo, pois nao eh permitido para nao hinduistas.
O Kopan Monastery fica no alto de um morro e pertence a ordem budista do Dalai Lama.A Gelupka. Monges e nuns com suas roupas vermelhas trabalhando ou estudando.Templo grande e bonito. Os ocidentais podem se hospedar la para cursos de 10 ou 30 dias sobre budismo. Sao dados por lamas e dizem ser muito bons, mas nao podem sair durante o periodo. Havia muitos ocidentais fazendo um curso quando fui la.
Fomos para o Tibet, pela China Airlines. Chegamos em Lhasa com diferenca de fuso de 2:15h. Nunca imaginei que houvesse 15min no fuso! Mas os chineses fazem o que querem. Aeroporto moderno, ar rarefeito. 3400m de altitude. Tomei minhas bolinhas de homeopatia para altitude. Senti um pouco de tonteira e pressao na cabeca, mas fiquei bem. Thomas, o organizador do grupo, e mais 2 pessoas passaram mal tendo que tomar oxigenio e ficar de molho no hotel. Cilindros deoxigenio sao vendidos em lojas na rua. Um onibus moderno com ar condicionado e guia local nos esperava. Esperava encontrar frio no Himalaia. Viajamos 2h e fomos para Tsedang. Otimas estradas e o mais engracado eh o controle de velocidade. O onibus passa por um posto, marca a hora. No proximo posto eh verificado o tempo. Sem radar. Na estrada varios carros e onibus ficam parados esperando dar o tempo. Paisagem arida, montanhas altas rochosas e com imensas dunas de areia. Pouca vegetacao apenas a beira da estrada. Ceu azul e muito ao longe alguns picos nevados. Neva pouco nessa regiao e fazia calor durante o dia. Dormimos em Tsedang e no dia seguinte pegamos um barco a motor e atravessamos um largo rio par visitar o Monasterio de Samye, o primeiro monasterio do Tibet fundado no sec.IV. Lindo monasterio, mas o que mais gostei foi ter visto o povo com seus trajes tipicos lindos, muito enfeitados com joias de prata turqueza, coral, lapis lazuli no pescoco, orelhas, cabelo fazendo sua peregrinacao. Tirei muitas fotas. A religiosidade do povo tibetano eh grande. Pelo menos uma vez na vida tem que fazer uma peregrinacao aos lugares sagrados.Sao todos budistas Eles nao se interessam pelo ocidente, portanto conservam as mesmas tradicoes ha seculos . Sao nomades ou “farmers”. Ou monges. Milhares de jovens vao para os monasterios. Os nomades sao os ricos. Mudam suas tendas cobertas com algodao no verao e pele de yak no inverno ate 10 vezes por ano buscando pastagem para seus animais. Vivem isolados com sua familia nuclear. As vezes nos festivais se reunem e dancam ec antam. Ajudam bastante os monasterios com dinheiro e fornecendo manteiga de yak para comer e lamparinas. Os fazendeiros sao mais pobres com suas pequenas plantacoes de arroz e “barley” em terra rochosa e arenosa. Vida dura. Os chineses invadiram o Tibet em 1950 e o anexaram a China. Em 1958, com a Revolucao Cultural de Mao, a religiao foi proibida, monasterios destruidos e o Dalai Lama fugindo para Daramsala na India. Ele eh considerado persona non grata no Tibet e tive que deixar um livro que tinha com a foto dele aqui em Kathmandu, pois nao se pode entrar na China com nada que lembre ele. Infelizmente nao adianta mais o adesivo de Free Tibet nos carros. David contra Golias. O Tibet virou China.A China esta crescendo muito rapido e precisa de espaco. Cidades modernas, padronizadas, sem alma. Bons hoteis, boas estradas, multinacionais, progresso chegando, mas acabando com a cultura de um povo. A partir de 1985, os chineses liberaram a religiao, depois de matarem milhares de tibetanos com armas, obrigaram a plantar trigo numa regiao nao apropriada para esse cultivo, mataram milhares de fome. Liberaram a religiao e reconstruiram alguns monasterios de olho no turismo. O Potala Palace virou um museu, com guardas chineses controlando e cobrando caro pela visita. Hoje a populacao de Lhasa eh de 90% de chineses e 10% de tibetanos ao redor do Jokhan, na parte antiga da cidade. Jokhan, antigo palacio e monasterio fica na principal praca da cidade antiga de Lhasa. Peregrinos se jogam na frente dele fazendo prostracoes. Apos a travessia do rrio, pegamos um onibus local. So rindo para nao chorar. Enquanto cabe alguem eles deixam entrar. Dormimos em Samye, numa Guest House do proprio monasterio. Nao havia outro lugar para dormir. Quarto confortavel mas sem banheiro. Tinhamos que atravessar o terraco para irmos a um. Luar e vista para o monasterio e “stupa”.Ar limpido. Frescor.Magic. Mas o banheiro.... Porta aberta, buraco no cimento dando direto para um rio. Tinhamos que jogar uma bacia de agua depois. E o cheiro!!!! Ai, vida de viajante as vezes eh dura. Alias os banheiros durante a viagem de onibus eram problematicos. Instituimos o Pee Stop atras das moitas ao inves de pararmos em banheiros publicos. Muito engracado. Cada um procurava seu lugarzinho. Homens de um lado e mulheres do outro. Pelo menos era mais cheiroso. No dia seguinte, barco de volta e nosso onibus para Lhasa. Chegando la, o hotel marcado falhou e tivemos que ficar num hotel chines. Modernissimo, confortabilissimo. Quarto grande com sofa e banheiro com ducha de massagem. Adorei! Mas Thomas, que odeia os chineses, nao gostou. E tratou de nos mudar na noite seguinte para um tipico hotel tibetano na parte velha da cidade. Nao quer dar dinheiro para os chineses. Pediu para comprarmos apenas de tibetanos. Hotel bom, mas antigo. O pior eh que viajamos no outro dia e ficamos em 5 hoteis diferentes. Visitamos onze monasterios.Lindos. Com seus panos nas fachadas. Bandeiras. Mas todos semelhantes, escuros, com cheiro enjoativo de lamparinas de yak misturado ao incenso. Inumeras escadas para subir. Quinhentas mil estatuas de buda overcrowding os espacos. Douradas e coloridas. Cada buda representa uma caracteristica humana. Barroco tibetano. Tumulos de ouro. Decoracao super rebuscada e colorida. Lindo um, dois, tres, mas no final nao aguentava mais. Enjoo como tive com o foie. O budismo que o Dalai Lama passa no ocidente eh light. Mais filosofico. Nao esperava encontrar tanto ritual e tanta supersticao. O budismo tibetano eh misturado com uma antiga religiao xamanica do Tibet. A Bon. Por isso eh tao diferente do zen budismo e de outros . Cada pais tem seu budismo. E mesmo no Tibet existem quatro correntes. Mas todas institucionalizadas. Eramos o Dharma Dozen, o grupo pequeno de 10 pessoas, mais Thomas e sua filha de 7 anos. Adoravel menininha, linda loura , inteligente, bem comportada e sabia(com acento) que acreditam ser reencarnacao de um lama tibetano. Quando um lama morre, ele diz onde vai reencarnar e deixa algumas pistas para a crianca ser encontrada. Se a crianca resolve alguns problemas que lhe sao dados, essa crianca eh aceita oficialmente como reencarnacao do lama. Tutchen Detchen, seu nome em budismo, ja esteve 8 vezes no Kopan e esta sendo preparada para ser um lama, e eh aceita nao oficialmente ainda como reencarnacao. Sera criada no ocidente para expansao do budismo. Realmente ela eh especial. O grupo de Findhorn eh politicamente correto, apesar de nao serem budistas como o Thomas. Acho mto engracado o politicamente correto. Todos com cara de perfeicao e bondade. Nao podem comparar, pois estariam julgando, como por exemplo achar muito feia Kathmandu em relacao a Lhasa. Ai, quero ser politicamente incorreta!!!! Thomas quer ser budista, mas tem que lutar muito com seu temperamento e volta e meia escorrega. Gosto da essencia do budismo,da sua filosofia, do Dalai Lama. Mas nao consigo gostar como religiao. Foi otimo vir aqui para ter certeza disso ..Quando li a historia,onde os reis e santos sao os mesmos, assasinatos , igualzinho a igreja de Pedro. Vi os tumulos de ouro enquanto o povo nao tinha o que comer, compreendi que a historia de todas as religioes eh a mesma . A busca do poder e da fortuna. Politica. Esquecem da essencia e ficam no ritual. Acham que se fizerem nao sei quantas prostracoes e rodarem a” wheel prayer” o tempo todo alcancam o enlightement. Continuo nao tendo nenhuma religiao apesar de ser profundamente religiosa, no sentido de “religare” . Sou livre. Gosto de meditacao. Eu e o cosmo.
Mas adorei ter visitado o Potala Palace. Como disse, virou um museu, mas eh grandioso incrustado no penhasco. Lembrei-me dos livros do Lombsang Rampa , “A Terceira visao” e “Os Monges do Tibet” que me fascinaram na decada de 70. 375 degraus. Acho que brevemente os chineses vao colocar elevador. Gostei tambem do antigo monasterio Jokhan e sua praca em frente, com muitas barracas vendendo colares, budas, antiguidades. Animada. Mas o que mais gostei, foi ter visitado as “caves” onde os homens santos meditavam por anos. 3 anos, 3 meses, 3 dias e 3 horas era o minimo. Ficavam isolados nessas cavernas no alto da montanha . Pudera. Imagino que fugiam da intriga da corte e buscavam a verdade. Subimos imensa escadarias para visitar as grutas . Depois fizemos picnic a beira de um rio. Foi otimo tirar o cheiro das lamparinas do meu nariz .Interessante o monasterio Sera em Lhasa, onde num patio, a tarde, os monges debatem assuntos relacionados ao budismo batendo com as maos como palmas. O barulho de tantos monges, o colorido das vestes no patio vale a pena ver.O “sky buriel” eh o funeral para o povo, mas nao eh permitido os turistas assistirem. Cortam o corpo do morto em pedacos e colocam-no sobre uma pedra para os abutres comerem. Os lamas sao cremados.





Subimos uma montanha numa estrada sinuosa e fomos ver um lago de agua turqueza a 5400m de altitude. Ja estava aclimatada, mas mesmo assim senti pressao na cabeca. Um grupo de ciclistas ocidentais subia a montanha pedalando. Havia 2 caminhoes de apoio. Mas haja folego! Voltamos a Kathmandu apos 2 semanas intensas. Nao tivemos um dia livre. Thomas, como alemao que eh, gosta de ser ditador e acha que somos peregrinos budistas sem sight seeing. Logico que me rebelei e tirei uma tarde para mim em Lhasa. Perdi um monasterio, mas preferi olhar a cidade sozinha.





Vir ao Tibet by yourself eh dificil. Nao ha onibus regulares e as pessoas nao falam ingles. Acho que as autoridades chinesas nao permitem. Ou se vem num tour de 4 dias com alguma operadora tipo Queensberry , mas se ve muito pouco, ou se pode alugar uma Land Rover com motorista e um guia atraves de uma agencia local, o que sai mais caro, mas da mais liberdade. Foi bom ter vindo com o grupo apesar dos pesares.
A primeira coisa que fiz em Kathmandu foi tratar do visto que demorou 5 dias. Enquanto esperava, viajei com 3 amigas para fazer um safari de elefante na jungle. Fomos de carro com ar condicionado e motorista para um resort no Royal National Park Chitwan. Sem budismo.Sao apenas 160km daqui de Kathmandu, mas como a estrada eh muito esburacada levamos 5:30h. Foi bom para conhecer um pouco o interior do Nepal. Lindas montanhas verdejantes e rios com corredeiras. Tivemos que usar o Pee Stop.Mas, tudo muito pobre! Quando falam que pior nao pode ficar, pode sim . Eh so ter governo ruim. Pode-se piorar sempre Andamos de elefante dentro da floresta para ver os animais.So que como eh dificil aparecer animais selvagens com tantos turistas nos elefantes, puseram dois rinocerontes esperando por nos. So que estavam nitidamente dopados. Apertei o guia e ele confirmou. Absurdo!!! Vimos os elefantes tomando banho e o por do sol a beira do rio.Adorei o passeio. Hotel excelente com piscina e grande jardim. So que nao podiamos sair apos escurecer, pois como estavamos no meio do parque, o guia disse ser perigoso devido aos elefantes selvagens que sempre matam gente na aldeia. Passamos 2 noites. Adorei.
Ontem visitei uma cidade linda, perto de Kathmandu, chamada Bakthapur. Cidade historica, patrimonio da Unesco. Templos hinduistas, pracas grandes, palacio e trabalhos maravilhosos de entalhe na madeira. Nenhum monasterio budista. O guia me explicou que nos templos hinduistas ainda fazem oferendas matando animais. Alias, li na internet que antes de chegarmos aqui , a Nepal Airlines, que so tem 2 avioes e estavam quebrados matou dois bodes para fazer os avioes funcionarem. Estou esperando lugar no voo para a India, mas com certeza, nem de graca voo pela Nepal Airlines!!!!
Resolvi ir para o ashram do Sri Vast primeiro, pois estou com muito peso na bagagem. Depois resolvo ir a Poona leve.
Mando noticias de lá, beijos e muitas saudades.








Vídeo do Tibet

Vídeo do Nepal

domingo, 16 de setembro de 2007

Despedida de Fimdhorn

Cheguei anteontem em Findhorn depois de 3 semanas. Anna foi para o hospital devido ao problema da perna, logo depois que parti. Apesar de ter a casa só para mim , sinto falta dela. Ontem fui visitá-la no hospital. Cada vez me surpreendo mais com o respeito que o governo tem pela populacão. Hospital público lindo, enfermaria para quatro pessoas enorme e tudo limpo e organizado. Quando estive lá, médica, enfermeira e refeitório passaram para saber se Anna precisava de alguma coisa. E ela tem somente uma úlcera na perna que esta demorando para cicatrizar. No Brasil depois de enfrentar fila, atendem em 5 min e dão uma pomada para passar. Foi o que fizeram com uma empregada minha. O frio continua. Cheguei aqui com 10 graus e o sol apareceu um pouco hoje. E ainda estamos no verão. Em compensação a França e a Espanha estavam com um tempo maravilhso. Dias de um céu azul profundo e uma temperatura agradabilíssima.
Fiz escala no Charles De Gaulle onde encontrei Maria Cristina e uma amiga dela e seguimos para Marseille onde pegamos o carro. Nos deram um Fiat Doblo zerinho. Elas acharam muito grande para dirigir e eu aceitei dirigir sozinha. Demos um fora na escolha do local de dormir a primeira noite. O aeroporto de Marseille é mais perto do lugar que íamos do que Marseille mesmo. Mas demos outro fora na escolha do hotel. Como elas haviam dormido no avião queriamos ter um quarto single para cada uma de nós. Escolhemos o Formule 1 que pensavamos ser igual ao de SP. Simples, mas confortavel e acessível para termos 3 quartos. Nunca fiquem em Formule 1 na Europa. É um muquifo. Saimos de Marseille o dia seguinte para a Provence em direção a Bras d’Asse no caminho de Digne visitar uma amiga que conheci aqui em Findhorn que está fazendo uma comunidade recuperando um castelo medieval no alto de um morro com uma vista maravilhosa para o Mont Ventoux e os campos de lavanda. No caminho almoçamos, pela primeira vez depois de quase 3 meses viajando, minha primeira comida realmente saborosa ( Vive la France!!!), em Les Mees. Vila pequena mas com uma formação calcária no morro da cidade muito interessante. Zus, uma belga de Antuérpia e mais uma casal de amigos, recebia um grupo de deficientes mental adulto que fazia trabalho de arte dentro da igreja antiga transformada em atelier. Ela e uma amiga cozinham para todos e nós tambem jantamos e dormimos lá. Inesquecíivel a paisagem ao entardecer com a lua surgindo naquela paisagem linda. É maravilhoso existir pessoas com essa capacidade de doação. Ano que vêm, ela e o marido que vai se aposentar pretendem morar lá tempo integral. Estão reconstruindo e fazendo studios para acomadar as pessoas há 17 anos Me sinto tão egoísta quando vejo isso!!!
Depois do almoço, seguimos para Roussillon ainda com alguma esperança de ver algum campo florido, mas não havia nada. Segunda vez que vou a Provence e não vejo a lavanda. Bom. Terei que ir a terceira. Roussillon, não a região do Languedoc, é uma vila linda toda em vários tons de ocre. Lojinhas, comida gostosa. Passamos duas noites em um hotelzinho ótimo, bem provençal. Fomos depois a Avignon onde só passeamos em volta do Palácio dos Papas (já conhecia e elas não quiseram ir), Nimes, Montpellier, onde almoçamos, Narbonne, Carcassone, Toulouse em direção a casa do André em Roquecor, que fica entre Agen e Cahorsna região chamada Aquitaine. Chegamos a noite com muita chuva. O dia seguinte amanheceu com o sol brilhando. A França é toda muito linda, mas fiquei impressionada com a beleza dessa região. Toda ela plantada com videiras e ameixeiras. Campos lindos de girassóis um atrás do outro. Igrejas antigas. Vilas medievais no alto dos morros. Parecia que estava num quadro de Van Gogh. Luz dourada. Entendi a razão de pintar paisagem. Comunhão perfeita. Fusão. Com a natureza. Com o universo . O artista é a paisagem. Um igual ao todo. E cada artista se expressa ao seu modo. Van Gogh, Monet, Turner, Cezanne, Matisse e muitos outros inclusive os abstratos cada um a seu modo se expressara sendo um com a paisagem Maravilha. Roquecor é um pequeno vilarejo medieval no alto da montanha com uma igreja, uma epicerie, um correio que só abre duas vezes por semana , uma prefeitura e um café que na realidade é um restaurante muito bom cujo dono é um australiano que faz autêntica comida francesa e é frequentado por ingleses e franceses. Bem movimentado. A vila é um charme. Casas de pedras branquinhas, janelas azuis, flores pela rua. A casa do André é bem grande e muito confortável. Como a mãe dele morava lá a casa é bem mobiliada e equipada. E tem uma vista deslumbrante para os campos ao redor. Foi reformada, mas é uma casa medieval construída no muro da citadela. A vizinhanca éh super simpática e muitos ingleses tem casa de veraneio por lá. Compravamos baguette todas as manhãs e cozinhamos muitas vezes. Passeamos muito pelas cidadezinhas vizinhas , Montagui, Tourneau d’Agenais, Lauzerte, Penne d’Agenais e o Pays de Serre, onde cruzavamos os campos e as vilas, chamadas pela Maria Cristina, de vilas Bienvenue- A Bientot. Adivinhem porque. As vezes almocávamos por lá. Andavamos a pé pelos campos fazendo nosso cooper. Íamos ate o moinho de vento o que me fazia me lembrar novamente do Van Gogh. Igreja, campo, moinho e girassóis. Vida deliciosa. Agradeço muito aos meus amigos Claudia e Andre por terem me proporcionado férias tão agradáveis. Fomos ao Musee do Foie Gras, onde nos explicaram como é feita a “gavage”. A superalimentação do pato ou do ganso para o figado ficar bem gordo. Uma maldade, mas é uma delicia. Comi sem pensar. Como tambem não penso quando como frango, bife, porco etc. Somos ainda bárbaros. Gostaria de me tornar vegetariana, mas não tenho nenhuma vontade. Como isso tem de vir de dentro e ainda não veio, não quero ficar reprimida. Ainda aproveito os prazeres da mesa. No sábado havia um picnic no pomar do Musée, com mesas embaixo de ameixeiras. Pagamos 3 euros e podiamos colher e comer quanto quiséssemos. Quase tive indigestão de tanta ameixa gostosa. E barracas vendendo comida. Só que especialidade francesa. Escargot com cogumelos, o foie de todas as maneiras, frango na brasa, armagnac, vinho , pão de campagne. Pegamos uma mesa e almoçamos maravilhosamente bem. Fiz bem , porque aqui na Escócia a comida é horrivel. Em Londres, pagando caro ha opções de bons restaurantes, mas aqui, nem isso. Em Findhorn só há 2 restaurantes. E só da para comer 4 pratos: moules a mariniere,clam chowder, salmon grelhado com salada e bife com fritas. Aprendi que a Aquitaine e o Languedoc é o Pays des Cathares. Para quem não sabe, e eu não sabia, os Cataros foram cristãos que se opuseram a Roma por volta do sec XII. Eles queriam voltar a essencia do Evangelho. Essa região era muito refinada naquela época, com os trovadores, poetas, o amor cortês, sendo muito valorizada a independência de pensamento. Criaram as Bastides, citadelas, não mais burgos feudais. Isso foi o que entendi da explicação no museu com meu fraco francês. Mas comprei um livro para ler a história dos Cátaros. Deve ser muito interessante. Todos os cátaros foram reprimidos pela Igreja e o rei e muitos foram queimados na fogueira.
Fomos tambem a Sarlat, a cidade do foie gras. Cidadezinha dourada, prédios renascentistas, muitos restaurantes e lojinhas. Adorei. E comemos foie gras. No final não aguentavamos nem ver mais magret, confit, bloc de foie , gordura de foie. Chega de foie!!! Dormimos lá. No dia seguinte, seguimos para Rocamadour, centro de perigranação da Idade Média. São Luis fez a peregrinação, assim como vários outros reis. Lindo “gorge” com um castelo em cima de um rochedo e a igreja mediavel incrustada na pedra. O vilarejo medieval fica em baixo. Usamos elevadores para descer do castelo a igreja e depois a vila. Muito bonito. Vimos tambem uma gruta com estalagmites e estactites e pinturas rupestres. Meio fraca. A proxima vez irei a Pech Merle, que fica proximo de lá. No finalzinho resolvemo s ir a St Cirq-Lapopie. Foi um erro, pois ja estava ficando tarde e olhando no mapa não parecia tão longe, mas a estrada pequena e sinuosa me deixou muito cansada. O lugar é maravilhoso com uma vista maravilhosa para o rio Lot serpenteando 200m abaixo. Vila medieval de artesãos que trabalhavam torneando madeira. Mas não deu para curtir, pois não queria dirigir a noite por aquelas estradas sinuosas e desconhecidas. Domingo saimos cedo para Barcelona e Sietges. Passamos por Moissac, onde visitamos a Abadia de St Pierre, almoçamos em Carcassone, atravessamos os Pireneus pela auto-estrada e chegamos em Sietges a noitinha. Sietges fica depois de Barcelona, a 40 min de trem. Estacionei o carro e não o dirigi mais por 6 dias. Sietges é uma cidade praiana, deliciosa com calçadão a beira-mar, muitos restaurantes e bares abertos a noite toda, ótimas lojas, um turismo gay friendly, animada, descontraída, ótima comida de frutos de mar, muita paella e mais barata que a França . Fui a praia, aluguei uma espreguiçadeira e tomei sol. A areia é fina, apesar de amarelada. As mulheres fazem topless. Os gays andam de maos dadas durante o dia pelas ruas. Tudo aberto sem preconceito. Uma outra amiga holandesa, Vivina, casada com um espanhol mora lá há alguns anos. Nos convidou para jantar na casa dela, no alto do morro, não no pueblo. Uma casa ótima com uma vista linda a 10 min do centro. Fui 2 vezes de trem sozinha a Barcelona enquanto Maria Cristina e amiga faziam outro programa de sightseeing e Mont Serrat. Queria visitar os museus. Fundação Antoni Tapies que adoro, ao Museu Picasso, que apesar de mostrar como o Picasso já era um gênio aos 15 anos, é mais fraco que o de Paris, uma exposição do Dali e outra maravilhosa do Nicolas Stael. Andei pelo Passeig de Gracie onde vi belas lojas, a casa Batlo, a casa Pedreira, e fui ver tambem a Sagrada Família do Gaudi. Andei pelo bairro gótico e passeei pelo Parc Guel. Realmente o Gaudi foi um gênio. Delirante. Pena que estão terminando a Sagrada Familia num estilo modernoso. Era melhor tê-la deixada inacabada. O catalão é a lingua oficial falada. Na escola as aulas são dadas em catalão e os alunos só tem 3 horas por semana de espanhol. Barcelona merece ser visitada. Acho que tem mais de 20 anos a última vez que estive lá. Está bem modificada. Fizeram uma remodelação para os Jogos Olímpicos e a cidade ficou mais linda ainda. Sietges e Barcelona – cidades retornáveis
Sábado pela manhã fizemos nosso caminho de volta. Passamos por Narbonne e tinhamos intenção de dormir em Arles, mas devido ao Campeonato Mundial de Rugby os hotéis estavam lotados lá e em Salon de Provence. Dormimos 2 noites num Mercure da estrada em Lancon de Provence. Confortável. Perto do aeroporto de Marseille onde entregamos o carro sem nenhum arranhão. Dirigi sozinha 3177km. E fiquei muito feliz por isso. Me deu muita confiança. E me senti independente. Maria Cristina é ótima companheira de viagem. Alegre e amiga. Me levou para o Brasil uma mala com 25kg. Fizemos uma viagem maravilhosa. Elas foram para o Brasil e eu vim por Aberdeen para Findhorn. Dormi no hotel, pois o vôo chegou quase a meia noite. No dia seguinte vim para Findhorn. Amanhã faço a mala e despacho pelo correio mais uma caixa. Quero viajar leve para o Nepal. Domingo vou para Londres pelo trem Caledonian Sleeper. Vou nanando como no tempo do Santa Cruz. Para Katmandu viajo quinta pela a Qatar Airlines. Me aclimato por 2 dias numa altitude de 3000m, me preparando para os 5400m do Tibet. Passo 2 semanas lá na volta mais 2 dias em Katmandu. Depois espero ir logo para a India. Vou tentar tirar o visto em Londres. Se não der, terei que tirar no Nepal e pode ser que demore um pouco. Mas vou conseguir tirar em Londres. Tenho que pensar positivo. Levarei o laptop e quando encontrar uma internet mando os diários.
Beijos
Leila

Errata: Escrevi “couro” em vez de “coro” no ultimo diário. Me perdoem

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Final da estadia em Findhorn

Fotos: Leyla Navarro Lins










Queridos amigos, realmente o tempo é relativo! Às vezes ele passa tão rápido que quando nos damos conta estamos ficando velhos e nãao vimos a vida passar. Tendo entender essa sensação de estar aqui em Findhorn há muito, muito tempo, quando na realidade estou há apenas 2 meses. Será porque levo a vida com calma, num ritmo gostoso, sem engarrafamento, poluição, barulho, hora marcada? Fiz muitos amigos e todos parecem calmos e sem grandes ambições. Cada vez mais, sinto que a vida nas cidades grandes, apesar de oferecer muito, não sobra tempo para usufruir. Tenho lido bastante, aliás li um livro excelente que deve ter no Brasil , mas não conhecia. Non Violent Communication - a language, escrito por um psicólogo Marshall Rosemberg que trabalhou com Carl Rogers. Para quem não ouviu falar é sobre como podemos usar a linguagem de maneira mais empática e com compaixão percebendo o outro. Coisa que nossa cultura competitiva nunca nos ensinou. Sermos vulneráveis e aprender a ouvir os sentimentos do outro. Leiam, pois se tivesse lido há mais tempo teria evitado muitas brigas com pessoas que amei e amo por nada. Vai começar um workshop segunda aqui em Findhorn, mas não poderei fazer pois estou com minha viagem programada. Pena. Farei quando houver no Brasil. Tenho tambem ouvido muita música. E vocês não acreditam, entrei numa aula de canto. As aulas são apenas para perder o medo de botar a voz para fora. Quem sabe no Brasil continuo. Por enquanto apenas grito. Coitado do professor. É igual ao professor de violino do Bolinha, quem se lembra? Outra coisa que percebo é como nos acostumamos com as coisas ruins do nosso país. E não fazemos nada! A CPMF continua nos expoliando ( assinei um manifesto da Fiesp contra), as estradas esburacadas, os hospitais sem atender a população, a segurança , a corrupção, as verbas mal gastas e muito mais. Quando vejo aqui, Anna Barton a dona da casa que estou morando, não tem seguro saúde. Mas o NHS ( National Healthy Service) manda duas vezes por semana uma enfermeira para fazer o curativo de uma úlcera na perna, pois ela não tem condição de ir ao hospital fazer o curativo, pois teria que andar uma certa distância. E o médico já veio aqui visitá-la 3 vezes . Além disso ela recebe uma boa pensão do estado por ter mais de 60 anos e pode pleitear auxílio aluguel. Tenho viajado bastante de ônibus e trem. Não vi até agora um barraco ou um pedinte aqui na Escócia. As estradas não são tão modernas como na França ou Alemanha, mas são conservadas e limpas. Não há problema de segurança. Todos vivem com a janela aberta dando para rua, sem grades. Parece que a honestidade é intrínsica nas pessoas. Agora, o interessante é a maneira como falam.O inglês falado aqui é bem diferente daquele que estamos acostumados, quando não falam gaélico nas costa oeste. Inclusive o nome das ruas é escrito nas 2 línguas. Mas os escoceses são extremamente simpáticos e amigos. Conversam logo e tentam agradar. E são muito alegres. Usam kilt nas festas, e soube que sem cueca por baixo da saia. Very funny indeed! Os ingleses são mais reservados. Aqui em Findhorn são bem diferentes pois já estão acostumados com a internacionalidade da comunidade. E pegam o jeito. Os ônibus são caros para 5 miles pago 2,10 libras=R4$8,00. Pudera, o que tem de velhinho de cabelos brancos mostrando a carteirinha! Quem não é velho paga caro. Os ônibus são sempre vazios e preocupados com os deficientes. Uma plataforma hidraulica é abaixada quando algum deficiente tem que entrar e lugar adequado para cadeira de rodas. Oh, primeiro mundo! Que qualidade de vida! Que repeito pela população! Pena que o clima seja tão ruim!!!! Meu ingles esta melhorando rapidamente. Anna esta corrigindo minha pronuncia e meus erros. Brinco que pago aluguel e tenho aula de inglês como brinde. Ela é inteligente e fala um ingles Londrino, sem ser cockney. Ela diz que vai ficar feliz quando eu falar “and” com sotaque londrino. Falo “and” americano . As outras pessoas não me corrigem, pois entendem tudo e acham que sou muito fluente. Mas estava bem enferrujada. O Festival de Dança Sagrada foi muito animado, com danças o dia todo todos os dias. Vieram muitas brasileiras. Foi muito bonito e até dancei um pouco. Tenho ido aos domingos pela manhã ao Shamballa , o centro budista tibetano, cantar com o couro as músicas sagradas. Aqui não há religião, mas tudo é feito com muita religiosidade. É ir lá participar, mesmo apenas ouvindo o Taize Singing faz muito bem para a alma. Também outro domingo, houve uma festa na Village. Bem festa de interior. Com barraca vendendo churrasco e prendas. Mas numa garage um grupo tocava um jazz maravilhoso. Piano, bateria, trumpet, sax, clarinete e baixo. Fiquei um tempo ouvindo e foi ótimo. Fiz uma viagem linda a Iona, uma ilha pequeninha, considerada sagrada, pois Sto Colomba veio da Irlanda nos anos 700AD e fundou o primeiro monastério por aqui. Lá foi escrito o Livro dos Kells, que está agora na Irlanda. Há uma abadia linda do sec XIII restaurada. Prainhas com areia branca e mar azul. E água gelada. Depois fui para Tobermory, uma cidadezinha na Ilha de Mull. Lindinha, com as casas na beira do cais todas coloridas. Essas duas ilhas ficam nas Hebridas de dentro. No caminho Bens, Glens e Lochs (montes, vales e lagos) com vegetação e cenário muito lindo. Passei por Fort August e Fort Williams e comi siri gigante no cais em Oban enquanto aguardava o ferry para as ilhas. Tenho descoberto a ter muito prazer viajando sozinha. Converso com as pessoas e faço no meu ritmo a viagem. Ia ficar 2 noites em Iona, mas amanheceu chovendo e decidi ir para Tobermorry, dica de um casal jovem que jantei na noite da chegada. Eles estavam hospedados na minha B&B.
Essa semana fui ao Parque Nacional de Cairgorm. Como estava sem carro, fui de trem a Aviemore, cidade bonitinha com uma única rua de comércio e peguei o ônibus para subir a montanha. Lá peguei um trem funicular como o do Corcovado que leva os esquiadores no inverno. Não achei muita graça na paisagem. Mas Anna me disse que andar pelo parque é muito lindo. Mas acho que o que fiz foi para turista de verão. Sem graça. Ia dormir por lá mas voltei no mesmo dia.
E para terminar sobre a minha estada na comunidade, quero contar para vocês o que me encanta é a solidariedade entre as pessoas. Aqui tudo é reaproveitado. Algumas pessoas usam partilhar o carro. Um dia para cada um. Qdo vc nao quer mais alguma roupa ,sapato, você lava arruma e doa para a boutique daqui. Se eu precisar de um casaco por exemplo, vou lá e simplesmente pego para mim. Nao é vendido. Não tem ninguém controlando. A máquina de lavar é de uso comum por meio de fichas compradas ou quem tem uma em casa divide com os vizinhos. O corta grama, o aspirador. A consciência ecológica é grande e a lojinha sóo usa sacola usada. Mas em geral cada um leva a sua bolsa de compras. Não se toma refrigerante e os produtos são orgânicos. O sabonete é sem cheiro, e as pessoas em geral só se tratam com homeopatia, floral ou Welleda. E economia de sabão ecológico e água é normal. Não há desperdício. As pessoas se vestem muito a vontade. Agora é moda usar saia curta sobre calça. Estilo meio indiano. Mas cada um na sua. As crianças vão para a Escola Waldorf e os livros na lojinha são sobre anjos, psicológicos, espirituais. Tudo bem New Age.
Outro dia cozinhei para Anna e uns amigos. Adoraram minha comida. Anna recebe sempre as amigas, que ajudam bastante fazendo compras para ela, vindo sempre aqui enquanto ela está com esse problema na perna. Acho que o mundo seria bem melhor assim. Viver em pequenas comunidades com muita liberdade e muita solidariedade. Essa semana a Rona, uma brasileira quer que eu faça uma comida brasileira com ela para toda a comunidade. O problema é que sou carnívora e aqui tudo é vegetariano! Não sei o que poderemos fazer. Ela sugeriu feijoada vegetariana. Disse para ela que isso para mim é minestrone. Semana que vem vou para casa do Andre, marido da Claudia, no sul da França. Vou encontrar 2 amigas e ficarei por lá três semanas. Alugamos um carro e vamos passear bastante pela Provence, Languedoc e Aquitaine. Não vou levar o laptop, para não ficar preocupada com ele no carro, pois não tem internet em Roquequor. Vou me comunicar pelos cyber cafes. Quando chegar escrevo o Diário de Roquequor.
Volto para pegar a mala para ir para o Tibet e Nepal dia 16 /09 via Londres por 15 dias e depois para a India. Se gostar vou ficar ate janeiro na India. Vou fazer um tratamento ayurvedico por 28 dias no ashram do Sri Vast perto de Auroville, na costa oeste da India. Vocês receberão os Diários do Oriente com as notícias, mas enviarei apenas para quem já me retornou, do contrário acho que alguém não recebeu ou me considera uma chata enviando span. Por favor me avisem quem ainda não avisou. E tambem quero saber as novidades desse nosso pobre gigante adormecido. Estou enviando tambem a poesia Itaca, que minha irma enviou para mim e por favor "Não me esquecam!!!!" “Escrevam!!!!!” “Vou voltar, ai é o meu lugar”,”podem preparar a feijoada que estou voltando”(feijoada com porco, please).
Beijos e blessings!!!!

Ítaca

(Cavafy- 1863-1933)

Se partires um dia rumo a Ítaca

rezes para que seja longo o caminho

repleto de aventuras, repleto de experiências.

Aos Lestrigões, aos Cíclopes

ou ao colérico Poseidon, nunca temas.

Não encontrarás tais seres no caminho

se teu pensamento se mantiver elevado,

se emoção sutil tocar teu corpo e teu espírito.

Nem aos Lestrigões, nem aos Cíclopes,

nem ao feroz Poseidon vais encontrar,

se não os leva na alma,

e se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que seja longo o caminho.

Que muitas sejam as manhãs de verão

em que — com que prazer, com que alegria! —

entrarás em portos antes nunca vistos.

Detenha-se nos mercados fenícios

para comprar finas mercadorias,

madrepérolas e coral, âmbar e ébano,

e excitantes perfumes de todos os tipos,

tantos perfumes excitantes quanto possas.





domingo, 1 de julho de 2007

Findhorn - Semana do Solstício de Verão




Estou aqui no Park há 3 dias. Domingo, fui convidada para ouvir poesia sufi no Park. Pensei comigo: “vou dormir, mas OK let’s go.”Cheguei a uma sala circular com almofadas e cadeiras colocadas em círculo em cima do Community Center. Havia uma mesinha com velas e flores no centro. Barbara, uma austríaca linda, loura com um sorriso doce e com uma voz maravilhosa sentada no chão estava dirigindo os trabalhos. Vários livros de poesia pelo chao. Violão, acordeon, um instrumento indiano, com fole e teclado, pandeiro. Ela comecou dizendo que não tinha preparado nada, mas estaria em contato com os anjos para inspiracão. Começamos cantando lindas músicas devocionais. Eu so cantava sem emitir som algum , se nao estragaria o coro. Quando acabava uma música, ela pedia alguém para abrir um dos livros de poesia e recitasse alguma poesia. Tudo muito alegre e descontraído. Algumas pessoas dançaram quando a música era de alegria. Saí de lá feliz e não tive sono algum enquanto estava lá. Depois dormi com os anjos. É interessante como nossa mente nos pega peça. Antes de vir para o Park, fiquei imaginando que a lady que me alugou o quarto podia não tomar banho, deixar a casa suja. Estava temerosa. Mas igual ao “sono” da poesia sufi, era so imaginação. Ana Barton, uma senhora inglesa de 72, doce, muito querida, e a casa era pequena , mas super limpa e agradável. Estou adorando ficar aqui. E, acho que foi a melhor opção. Pago apenas 280 libras por mês ( preço do Cumberland, para uma noite em Londres. Ah os velhos tempos!!!). Nao tenho compromisso algum. Estou easy rider. Levanto cedo e às 8:00am, vou ouvir no Nature Santuary , Tainze Music. O Nature Santuary é lindo, em círculo , com luz zenital . Sentamos junto a parede e olhamos a vela e as flores no centro. Músicas sagradas escritas e cantadas por freiras num convento da França há muito tempo atrás. Como sempre, apesar dos livros com música e partitura , não canto para não estragar a beleza. É impressionante como as pessoas aqui cantam bem. É dividido em soprano, baixo, contralto. Lindo, lindo lindo. Diariamente tem esse canto. As 8:30 acaba e vamos para a meditação que começa as 8:35 num outro santuário, maior, com almofadas no chão e cadeiras. Lá fazemos por meia hora meditação silenciosa. Uma pessoa apenas lê umas palavras iniciais e toca o gongo no final com outras palvras para finalizar. Ninguém é obrigado a ir. Aliás, aqui quando não se está trabalhando oficialmente, não se á obrigada a nada. Apesar de dia 22 ser o summer midseason, o dia do solstício de verão, quando o dia é o mais longo do ano, o frio continua maior que o inverno em SP. Estou usando sweaters que a muito tempo não usava em Atibaia e me lembro dos Supertramp “It’s rainning again...”. Acho que eles se inspiraram na Escócia . É muito lindo ver a mudança das estações aqui no norte da Europa. A meia-noite ainda ha luz, e o amanhecer é por volta das 3h da manhã. Durmo de máscara, se não acordo cedíssimo. O solstício é comemorado a semana toda. Segunda e terca tivemos música, canto e dança no campfire. Um lugar lindo no meio dos pinheiros. Como sempre so ouvi, não cantei para não atrapalhar. Mas dancei e me diverti em volta da fogueira.




Hoje quarta-feira ,haverá um churrasco de carne e vegetais. Tudo muito lindo. No almoço, um grupo fantasiado entrou pelo restaurante saudando o midsummer. No Brasil costumamos dizer que o verão começa dia 22. Aqui não. Nós já estamos no verão há um mês e meio. E eles estão certos, pois após esse dia começa a contagem regressiva com os dias ficando cada dia menores. Sexta havera uma grande comemoração. Muita alegria. As tradições celtas são muito fortes. Ontem e anteontem, os dias estiveram lindos. Aproveitei para ficar solta, sem horário. Fui ate a Findhorn Village, uma vila de pesca e marina com barcos a vela. Fica entre a Findhorn Bay e o mar. Muito lindo, praia com pedra redondas grandes no começo e depois uma extensão grande de areia ate o mar lá longe. Tipo Santos. Ainda não vi a maré cheia que vem até as pedras. Quero ver, mas não sei em que fase da lua estamos e não sei o horário. Vou perguntar.




A vila, não á como as nossas vila de pesca. As casa são lindas de pedra e tudo muito arrumado. Ontem foi muito engraçado. Estava andando do Park ate a Vila, com os fones do meu MP3 no ouvido, feliz da vida, pois o dia estava perfeito. Ouvindo música e quase dançando pela rua. Quando me assustei com um carro que de repente apareceu atrás de mim e levei um trambulhão e caí no meio fio. O lindo cavaleiro desceu do seu cavalo branco, digo carro, e veio assustado ajudar a princesa caida de pernas pro ar. Obviamente que ele não teve culpa alguma. Estou rindo até agora. Ainda bem que estava de jeans e só machuquei um pouco o joelho e o cotovelo. E o príncipe foi embora pedindo desculpas... Fui até o supermercado comprar antissético para limpar os machucados e depois fui andar na praia. Molhei os pés na água gelada, dancei e cantei , pois estava sozinha e só assusto as gaivotas e depois fui almoçar camarão na Marina, com uma taça de vinho branco junto aos barcos a vela. Gostaria de velejar um pouco. Eles dão aula e emprestam roupa de neoprene. Mas custa 20 libras a hora e estou economizando. Mas se um dia o tempo ficar muito lindo e quente, coisa que duvido, pode ser. Estou aprendendo a viajar barato com muito prazer. A refeição aqui no Park custa apenas 4 libras e e deliciosa com todos os vegetais fresquinhos. Hoje tinha homus e estava delicioso. Quando vou a restaurante fora daqui gasto no máximo 10 libras. Multiplicando a libra por 4 e o mesmo que gasto no Brasil!
As pessoas aqui são muito queridas e simpáticas. Old hippies e não hippies fazem uma mistura legal. Aqui tudo e muito espiritualizado sem ser religioso. Bem New Age. Ecumênico. Há muita liberdade e confiança. O Park , que é o lugar onde a Foundation começou, tem casas lindas ecológicas de madeira e tambem motor homes estacionadas a 30 anos, concretadas no chão. Você pode morar aqui e trabalhar fora da comunidade. E como se fosse um condomínio com um propósito comum.




Respeito pelo outro e pela natureza. Ninguem fica dizendo que e proibido fazer isso ou aquilo. As pessoas pedem e a consciência de cada um faz o que e necessário. Muito lindo. As casas abertas e um senso de colobaração enorme. O Cluny College ,em Forres a 5 miles daqui, onde passei a primeira semana é o lugar dos cursos. Estrutura de colégio interno. Nao há chaves nas portas dos quartos. Estilo Victoriano, confortável. Jardins lindos com um campo de golf em frente que não pertence a Foundation, mas faz bem para os olhos. Dia 7/7 volto para lá por uma semana fazer um workshop, chamado The Quest. É astroshamânico. Não sei exatamente como vai ser, mas acho que deve ser muito interessante “ The Quest = A busca”, mais espiritualizado que a Experience Week , que foi so uma introdução a comunidade. Depois eu conto.
Beijos para todos continuo depois.